Um legado na moda brasileira: a trajetória de Markito
Na efervescente cena da moda dos anos 70 e 80, um jovem se destacou pela exuberância e ousadia de criações da alta-costura.
Marcus Vinícius Resende Gonçalves, conhecido profissionalmente como Markito, nasceu em Uberaba, Minas Gerais, em 5 de abril de 1952. Morreu aos 31 anos, como um dos primeiros brasileiros conhecidos vítima do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), e deixou um legado que transcendeu as fronteiras do Brasil e da época.
Início da carreira
Desde a infância, que viveu em um casarão no Centro de Uberaba, Markito já mostrava talento para as artes. Começou desenhando vestidos e fantasias para uma escola de samba local, para o desespero dos 11 tios, irmãos da mãe, que queriam que o rapaz seguisse na engenharia para trabalhar na construtora da família.
Insatisfeito com a perspectiva de seguir uma carreira que não lhe agradava, Markito decidiu ir para a Bahia em busca de respostas. Na casa de outro familiar, ele teve a oportunidade de refletir sobre o que realmente gostaria de fazer da vida. Após essa experiência, ele voltou para Uberaba decidido: iria para São Paulo trabalhar com moda.
Apoio familiar
A mãe de Markito, a única mulher entre os 12 irmãos, reconheceu o talento do filho e enfrentou os homens da família para apoiar sua decisão. Aos 18 anos, ele se mudou para a capital paulista e rapidamente se tornou conhecido.
O sucesso
Com trabalhos caracterizados pelo uso de cores vibrantes, paetês e tecido tafetá, Markito atingiu o sucesso e se consagrou com o surgimento da era disco nos anos 70. Ele chegou a vender 300 vestidos por mês, um número surpreendente para uma grife de alta-costura, e comandou uma equipe de mais de 150 colaboradores.
A lista de clientes era extensa e incluía atrizes, cantoras e outras personalidades da mídia brasileira. Sandra Bréa, Mila Moreira, Maitê Proença, Sônia Braga, Christiane Torloni, Simone, Gal Costa, Vanusa, Fafá de Belém e Xuxa foram algumas das famosas que vestiram suas criações.
Reconhecimento internacional
No final da década de 70 e início dos anos 80, Markito alcançou uma fase de grande produtividade e prosperidade. Ele passou a ter clientes internacionais e adotou o nome Markito Brazil para sua marca. Foi nessa época que suas criações passaram a ser vistas em celebridades como Diana Ross, Liza Minnelli e Farrah Fawcett.
O diagnóstico fatal
Apesar do sucesso profissional, na volta ao Brasil, Markito começou a se queixar de problemas de saúde que inicialmente foram atribuídos a um suposto problema respiratório. Ele procurou médicos em São Paulo e até mesmo no exterior, mas nenhum conseguiu fazer um diagnóstico claro.
Desesperado e em busca de respostas, Markito voltou aos Estados Unidos, onde, mesmo assim, nunca recebeu o diagnóstico de que era portador do vírus da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Em 4 de junho de 1983, em Nova York, ele faleceu como um dos primeiros brasileiros conhecidos vítimas do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
O legado de Markito
A memória de Markito se manteve ilesa e preservada no acervo guardado por sua irmã, Mônica Cecília Gonçalves. Ela as guarda como meio de propagar as ideias de um dos estilistas mais bem-sucedidos do país, mesmo após o estigma de morrer devido à Aids, naquela época, ser tão cruel com as vítimas do vírus.
Hoje, a trajetória de Markito serve como inspiração para novos estilistas brasileiros, que reconhecem sua importância na história da alta-costura nacional. Seu talento e criatividade continuam influenciando a moda até os dias de hoje, tornando-o um verdadeiro ícone da moda brasileira.
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